É preciso lembrar que nosso organismo faz de tudo para se proteger do perigo, mesmo que isso signifique proteger você de você mesmo. É normal sentir cansaço após a atividade física, mas é preciso dar tempo para o corpo se regenerar do estresse. Quando há uma sobreposição dos estímulos do treino os mecanismos de defesa saem em disparada para alertar que você está pegando pesado demais. “A síndrome do overtraining é o seu corpo avisando que há um desequilíbrio entre o estresse de treinos e a falta de recuperação adequada”, resume o médico do esporte Guilherme Dilda, da Care Club (SP).
Confira os principais sinais que o organismo envia quando o overtraining dá as caras para o corpo:
1. Você não consegue manter seu nível de desempenho
Todo mundo já teve aqueles dias (ou semanas) que manter o nível de performance que sempre teve é mais difícil, mesmo com o mesmo volume de treinamento. Se a rotina de exercícios normal está mais difícil que há algumas semanas, fique alerta. “Se isso acontecer uma vez, ok. Isso pode apenas significar que você está cansado do treino dia anterior”, explica Dan Harris, treinador do British Rowing Start (Inglaterra), que continua: “A melhor métrica é perceber se esse cansaço acontece em treinos de baixa intensidade e volume, já que em treinos de alta intensidade o organismo apresentará maior fadiga de qualquer maneira.”
A melhor métrica é perceber se esse cansaço acontece em treinos de baixa intensidade e volume.
Dan Harris, treinador do British Rowing Start
2. Os batimentos cardíacos estão inconstantes
Outro sinal de alerta é a frequência cardíaca elevada mesmo se o atleta estiver em repouso. Recentemente, outra referência utilizada por especialistas esportivos é a Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC), que se refere à diferença de intervalo de tempo entre os batimentos dentro de um dado período. “Se frequência cardíaca em repouso for de 60 batimentos por minuto, nosso coração está batendo ritmicamente a cada segundo e há uma variabilidade no tempo entre as batidas. Esse intervalo é característica de um sistema nervoso autônomo saudável e responsivo. Quando a variabilidade diminui em um dado período de tempo, é um sinal de que você pode estar à beira de overtraining, ficar doente ou, pelo menos, cansado o suficiente para comprometer sua capacidade de responder ao treinamento”, diz Guilherme. Portanto, vá para o banco e tire ao menos dois dias de descanso!
Quando a variabilidade da frequência cardíaca diminui é um sinal de que você pode estar à beira de overtraining.
Guilherme Dilda, da Care Club (SP)
3. A fadiga é profunda e constante
Quando o cansaço começa a se tornar persistente, acumulando treinos com perda de rendimento e diminuição da disposição de treinamento, a fadiga surge como um alarme, que pode tanto ser desencadeado por razões psicológicas quanto fisiológicas. “O humor é um dos marcadores e exibe uma relação de dose-resposta com o treinamento, onde os distúrbios aumentam conforme a carga de treino se intensifica. O pico de esforço coincide com a alteração de humor”, explica Guilherme. Os sintomas psicológicos associados ao overtraining incluem ansiedade, depressão, apatia, falta de motivação, irritabilidade, incapacidade de relaxar, além da falta de autoconfiança. A perda da libido e até do impacto (perda ou aumento) de apetite também são outros comportamentos de alerta.
O humor é um dos marcadores e exibe uma relação de dose-resposta com o treinamento.
Guilherme Dilda, da Care Club (SP)
4. Insônia e redução da qualidade do sono
Considerando que um sono de qualidade acontece durante a noite, dura cerca de oito horas de forma geral, e você acorda descansado no dia seguinte, qualquer mudança nesses aspectos devem ser levadas em consideração. “Atletas que sofrem de overtraining sentem que precisam dormir o tempo todo, tiram diversos cochilos ao longo do dia e não conseguem adormecer à noite”, comenta Dan.
Atletas que sofrem de overtraining não conseguem adormecer à noite
Dan
5. Lesões e inflamações constantes
Sentir dor pós-treino é comum, e não necessariamente algo ruim. Pode significar que o organismo está recebendo estímulos e se adaptando a eles, ainda mais quando o treinamento é intenso. No entanto, quando se está sob overtraining, as barreiras do sistema imunológico diminuem e resfriados, tosses e inflamações se tornam uma constante. Outro ponto são as lesões chamadas de sobrecarga, que acontecem justamente nesse momento. Guilhermo Dilda explica que são pequenas lesões que atingem a integridade de ossos, músculos e tendões, mas que com o estímulo repetitivo e sem tempo suficiente para curar ou passar pelo processo reparador natural, se agrava. Fraturas por estresse, condromalácia, tendinopatias e forte dor na região da virilha e púbis, chamada de pubalgia são alguns exemplos de lesões mais comuns por overtraining.
Em dias de fadiga comuns, lançar mão de bebidas energéticas ajudam a dar gás extra para driblar o estresse da rotina e garantir mais desempenho no treino. Entretanto, é preciso ficar alerta e observar se a privação de sono é frequente, se as mudanças emocionais estão impactando o humor e a motivação além do normal e se o aporte de nutrientes por meio da alimentação estão adequados a fim de evitar o quadro de overtraining – análise que um médico do esporte ajuda a dar aquela geral e manter o organismo em dia.
Fonte: Red Bull