Temos um numeroso arsenal contra as dores nas costas, que vão afligir oito em cada dez pessoas pelo menos em um momento da vida, mas muitas vezes estamos errando o alvo ou pecando pelo excesso. É o que sugere um levantamento da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, englobando 23 918 consultas por causa de queixas desse tipo entre 1999 e 2010. Os pesquisadores concluíram que, ali, os médicos não seguem direito as recomendações para o manejo do problema, o que resulta em um abuso na prescrição de remédios, exames de imagem e até mesmo cirurgias.
No Brasil, o exagero parece ocorrer sobretudo nos exames de imagem, como raios X e ressonância magnética. Infelizmente, porém, esses métodos não têm a capacidade de acusar a origem precisa do incômodo, salvo exceções como um tumor. Pelo visto, ter tempo para puxar a história do sujeito e avaliá-lo ao vivo e em cores é mais útil do que apelar de imediato para a tecnologia. Mas o pior é que muitas vezes quem reclama de dor nas costas comete um grande erro: o de nem procurar um profissional e se automedicar. Aí o tiro sai mesmo pela culatra. Mais do que efeitos colaterais, remédios podem render sérios danos a outros órgãos.
Claro que não adianta a ciência se esgoelar atrás de saídas efetivas ou ultramodernas se a gente não cuida da postura e vive no sedentarismo. Exercícios orientados são fundamentais para fortalecer o abdômen e os músculos que protegem a coluna. Mudanças de hábito têm seu papel na remissão e prevenção das dores. Sabia que até fumar e exagerar na bebida conspiram para o suplício?
Os tratamentos estão avançando e, com um bom mentor, as chances de encontrar uma solução aumentam. Veja:
Remédios
Existem várias classes de medicamentos destinadas a apaziguar essas dores – e só especialistas podem escolher a ideal para o seu caso. Nas lombalgias comuns, a praxe é lançar mão de comprimidos de anti-inflamatórios e analgésicos. Vez ou outra são receitados relaxantes musculares. Agora, se a dor faz o paciente urrar, entram em jogo injeções de corticoides e outros fármacos da pesada. Nas dores crônicas ou resistentes a tratamentos mais leves, entram em cena os opioides – que devem ser utilizados com extrema cautela em função do risco de dependência. Em situações extremas, a saída é implantar, dentro do corpo, uma bomba que libera aos poucos morfina.
Toxina botulínica
Por enquanto, é uma promessa para dores crônicas no pescoço e na lombar. Ao contrário da enxaqueca – em que já há comprovações sobre sua ação –, temos de aguardar estudos maiores para validar essa nova aplicação da substância.
Fitoterápicos
Várias plantas pleiteiam propriedades analgésicas, mas, em matéria de lombalgia, se destacam a garra-do-diabo e o salgueiro, cujos princípios ativos têm respaldo científico no alívio da chateação. Esses dois fitoterápicos, aliás, são fornecidos pelo SUS em postos de saúde. Como qualquer remédio, eles precisam de prescrição médica.
Cirurgia
A principal indicação é a hérnia de disco. O objetivo é remover o pedaço do disco intervertebral que extravasou e aflige um nervo. Nos quadros em que essa estrutura se desgastou demais, busca-se substituí-la por uma prótese.
Microcirurgia a laser
Recém-chegada ao Brasil, seu alvo são pequenas hérnias na lombar. Em 20 minutos e por meio de um endoscópio, o médico usa o laser para secar o disco. A técnica possui uma aplicação mais restrita que a convencional.
Fisioterapia
Um trabalho da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, comprovou que pessoas com lombalgia aguda encaminhadas ao fisioterapeuta nas primeiras quatro semanas têm maior chance de escapar de cirurgias e outros procedimentos invasivos. Métodos como RPG, que acertam a postura, ajudam a evitar novas crises.
Osteopatia
Essa técnica de manipulação dos músculos, ossos e articulações visa sanar a origem do desconforto e recuperar a mobilidade. O consenso, até o momento, é que atua melhor nas fases agudas e, dependendo do perfil, não supera terapias, digamos, tradicionais.
Aparelhos portáteis
Estamos falando de uma tecnologia conhecida pela sigla Tens, que vem do inglês e se traduz aqui por estimulação elétrica nervosa transcutânea. Utilizada pelos fisioterapeutas, ela está disponível na forma de equipamentos portáteis e vendidos em farmácia. Por enquanto, seu uso é mais restrito a atletas, mas outras pessoas também poderiam tirar proveito – tanto na dor aguda como na crônica. O dilema é usar um dispositivo desses sem orientação. Vale pedir a opinião de um profissional.
Radiofrequência
Reservada a dores crônicas, ela bloqueia estímulos que partem de nervos sensíveis demais. Cada vez mais empregada, seus efeitos duram de um a dois anos e servem como etapa inicial para realizar outros estágios do tratamento.
Estimulação craniana
Por enquanto mais usada em ambiente acadêmico, também busca contornar quadros crônicos. Bobinas ou eletrodos são colocados na cabeça e, de acordo com a região-alvo e a intensidade das descargas elétricas ou magnéticas, modulam a massa cinzenta. A ideia é trabalhar com a liberação de neurotransmissores que trazem bem-estar e reorganizam o cérebro para quebrar os caminhos da dor.
Acupuntura
Segundo uma revisão do Instituto Cochrane em cima de 35 estudos, as agulhadas funcionam para lombalgias crônicas. No entanto, falta confirmar se oferece mesmo melhora nos quadros agudos. Já se sabe que o método faz liberar substâncias do corpo com poder analgésico.
Quiropraxia
A prática é ancorada na manipulação da coluna por meio de movimentos precisos que geram estalidos. Até agora, as evidências mais contundentes da sua ação se concentram nas dores lombares. Já a região cervical pede extremo cuidado porque existem relatos de complicações após uma sessão.
Laserterapia
A ferramenta aqui, parte do arsenal da fisioterapia, é o laser de baixa potência. No corpo, ele reduz inflamações e repara tecidos lesados. Apesar da eficácia no combate a dores cervicais crônicas, ainda não tem aval da ciência para dar fim a lombalgias – o laser teria dificuldade para penetrar a musculatura que circunda essa região.
Mesas de tração
O indivíduo fica acoplado numa espécie de cama que estica a coluna e aumenta o espaço entre as vértebras. Como tira a pressão sobre os discos, seria bem-vinda quando essa região está ameaçada. Mas alguns estudos demonstram que sua eficiência é restrita a um perfil minoritário de pacientes e por um curto período de tempo.
Compressa: quente ou gelada
O gelo, aplicado com uma toalha por cima, é adequado para situações em que há um choque – uma trombada num jogo de futebol, por exemplo. Já a compressa quentinha vem a calhar cerca de dois ou três dias após a pancada ou se existe uma dor crônica. Isso porque relaxa a musculatura e alivia o inchaço e a inflamação.
Pomadas
Nos anúncios de TV, elas ousam prometer solução imediata contra os episódios de dor aguda. Realmente, sua fórmula concentra analgésicos e até substâncias anti-inflamatórias, mas não dá para esperar um milagre porque ainda é incerto quanto suas moléculas ultrapassam todas as camadas da pele para agir no foco do tormento.
Suportes de cadeira
Embora eles ajudem a corrigir a postura no escritório, revisões científicas apontam que ainda faltam estudos de qualidade confirmando seu efeito contra a dor. E, pelos dados atuais, haveria pouca vantagem em termos de prevenção.
Camiseta analgésica
Sim, ela já existe e há pesquisas constatando sua eficácia. O tecido tem moléculas que emanam um calor na pele e sinalizam para os nervos que é hora de inibir o impulso doloroso. Mas não é qualquer roupa com fama de analgésica que tem esse efeito – vale uma palavra com seu médico.
Fonte: saude.abril